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Rafa Araujo

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Tukula - Amadurecimento

 

Sobre o cômodo: Banheiro

 

Conversando com Ian o motivo de ter escolhido esse cômodo, recorri às minhas memórias do porquê ter tanto apreço por essa parte da casa. Acredito que minha escolha esteja muito ligada em dois atravessamentos, distintos mas correlacionados.

 

O primeiro atravessamento foi pelo fato de eu ter nascido no banheiro, sim nasci no banheiro da pensão onde eu morava. Minha mãe conta que desde o dia 03 de dezembro começou a passar mal, nesse mesmo dia, meu pai saiu para pescar com os amigos, dizendo que retornaria rápido. Minha mãe fala que passou muito mal e que era para eu ter nascido na madrugada do dia 04 de dezembro. Meu pai apenas retornou da pescaria na manhã do dia 5 dezembro, por volta das 09h00, nesse mesmo momento, minha mãe foi ao banheiro antes de ir ao hospital, mas eu acabei não esperando chegar ao hospital. Meu pai contou-me que escutou os gritos da minha mãe e, correu para o banheiro da pensão, chegando lá, tentou me pegar 2 vezes no colo, mas como eu estava com muito sangue, cai duas vezes no chão. Meus pais ficaram muito preocupados, pois eu bati a cabeça no chão, mas graças às deusas, não foi detectado nenhuma lesão nos exames que realizaram no hospital. Um fato curioso nessa época/dia, que havia na região um assassino em série que estava matando mulheres e, quando meu pai tentou pegar um táxi comigo e com a minha mãe para o hospital, o taxista se recusou a nos levar, pois como meu pai estava cheio de sangue na blusa, o taxista ficou com medo no início do meu pai se o tal assassino. Minha mãe relata que logo que o taxista recusou a nos levar, eu chorei e ele acabou aceitando a corrida e nos levou ao hospital. Minha mãe nunca gostou de contar essa história, talvez pelo fato dela ter passado muito mal nesse dia e muita vergonha da situação.

 

O segundo atravessamento foi pelo fato de ter morado por muito tempo em uma pensão, praticamente toda minha infância e pré adolescência. Eu tinha muito medo do banheiro da pensão, além de compartilhar o banheiro com os vizinhos da pensão, tinha uma aparência horrível, escuro e com enormes minhocas. Eu achava que elas iam me engolir a qualquer momento, eu tinha muito pavor e até hoje morro de medo de qualquer bichinho que se arrasta no chão. Eu sonhava em ter um banheiro maravilhoso, enorme, com muita luz, banheira e sem nenhum tipo de inseto na parede. Na adolescência, mudei para um Conjunto Habitacional do CDHU, conhecido como Mutirão.  O banheiro não era mais compartilhado com a vizinhança, não era mais escuro e não tinha enormes minhocas. Comecei a usar o banheiro com mais tranquilidade, sem medo e passei a ficar mais tempo no banheiro, utilizar essa parte da casa como um espaço de refúgio, pois como minha casa geralmente tem bastante gente, o banheiro passou a ser um lugar mais reservado da casa. Um fato curioso é que o banheiro deixou de ser uma parte privativa quando a porta quebrou, ficamos um bom tempo sem porta no banheiro e eu sem o meu único espaço mais tranquilo e secreto.    

 

Ainda não tenho em casa o banheiro dos meus sonhos, mas o Ian conseguiu retratar de forma brilhante na arte que ele fez para o site. Ficou maravilhosamente do jeito que gostaria. Questão de tempo, materializo para vida real.

projeto-cicatrizes-banheiro-rafa-araujo.

Sobre o vídeo dança Bori

 

Quando o diretor Luiz Anastácio informou sobre o vídeo dança Bori, e que os orixás que eu representaria seriam os Ibejis e Iansã, eu fiquei muito feliz, visto que eu tenho um apreço e respeito muito grande pelos os orixás. Eu fiquei bastante preocupada em reproduzir estereótipos na representação, pois mesmo não tendo nenhuma intenção em ser desrespeitosa, não tenho experiência de terreiro. Acredito que a ausência da vivência em um determinado assunto, prejudica uma profunda e total compreensão dos seus fundamentos.

 

Pesquisando sobre Oya, conectei demais com uma mitologia contada pela Giselda Perê, do Agbalá, chamada “As Pulseiras de Ouro da Princesa”, inspirada no livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, não encontrei esse mito no livro que tenho em pdf, mas fiquei super encantada com esse conto e conectei demais com a história. Na parte que ela fala que o que mais Oya  gostava de fazer:

 

“era correr entre os vales, escalar montanha e lá de cima ficar olhando o horizonte, vendo o pôr do

sol cor de rosa, ela fica sentindo o vento rosa e se imaginava que um dia, ela também ia poder voar como vento, e conhecer cada cantinho do mundo …”

 

Isso é algo que me atravessa demais, quando era menina lembro o quanto eu gostava de correr e escalar tudo que via pela frente, o quanto que adorava ficar olhando o horizonte e ver o pôr do sol. Até hoje me fascina a possibilidade de algum dia poder voar, já sonhei várias vezes que tinha poderes de voar, talvez seja por isso que trago muito os movimentos com os braços e com as escápulas ao dançar, como se estivesse realmente voando. 

 

Eu me identifico muito com os Ibejis, essa energia me atravessa demais, eu sinto que carrego essa vivacidade que as crianças têm  no meu caminhar. Mais de uma pessoa já comentou comigo que “devo ter um erê comigo”, pelo fato de atrair muitas crianças para perto de mim e por ter muita energia que geralmente a criança tem. Na verdade eu gosto de crianças, tenho muita paciência com elas, gosto de adentrar nos universos que elas criam e viajar junto com elas, amo brincar com as crianças e geralmente acabo me divertindo mais que elas nas brincadeiras. Me sinto muito menina em vários momentos, e lembro que não queria crescer quando era criança, desejava ficar eternamente pequena.

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